Segundo António Gonçalves, em O Dono Já Vem, Deus criou o homem para que reinasse sobre os animais. Mas para que não ficasse apenas entre animais, criou os cães, de diversos tipos, para que o homem pudesse escolher o companheiro ideal. Todos eles eram bons e de tal modo que Ele disse: Vou fazer um cão superior, belo, forte, veloz e corajoso, atributos aliados à lealdade, à nobreza, à vigilância e à doçura. E com barro mole moldou o Seu cão ideal na forma do boxer, exceto no focinho, que como nos outros cães, era elegante e perfeito. Ao pô-lo a secar Deus disse: Este é de fato o cão perfeito! Ainda não completamente seco, ouviu, no entanto as palavras de Deus e cheio de orgulho disse para os outros cães: Eu sou o cão perfeito, porque ouvi isso de Deus. Admitam que sou melhor que vocês! Se os cães pequenos concordaram, os médios fingiram ignorar a afronta, já os grandes ficaram irritados, não fossem eles maiores e mais fortes que o boxer. E da irritação passaram à acção rindo do boxer pelo seu tamanho, ao que este respondeu lançando-se sobre o maior de todos. Esquecera-se, no entanto, que não estava completamente seco e o seu focinho, tão perfeito, ficou amassado, e a sua cara, outrora lisa, ficou toda enrugada. Então, Deus, que a tudo assistira, sorriu e disse-lhe: Porque és o Meu predileto, receberás como único castigo aquele que a ti próprio já infligiste: Terás de usar para sempre essa cara, que tu próprio hoje moldaste :)
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