quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

EPITÁFIO PARA UM CÃO

Boatswain (Terra Nova Landseer)


Epitáfio Para Um Cão 

Perto daqui
Estão depositados os despojos daquele
Que possuía beleza sem vaidade,
Força sem insolência,
Coragem sem ferocidade,
E todas as virtudes do Homem sem seus vícios.
Este elogio, que seria uma adulação sem sentido
Se escrito fosse sobre cinzas humanas,
É somente um justo tributo à memória de
Boatswain, um cão
Que nasceu em Newfoundland em maio de 1803,
E morreu em Newstead, em 18 de novembro de 1808.

Quando um orgulhoso filho do Homem retorna à terra
Desconhecido pela glória mas sustentado pelo berço,
A arte do escultor exaure a pompa do infortúnio,
E urnas ornadas registam aquele que descansa abaixo:
Quando tudo está terminado, sobre a tumba é visto
Não o que ele foi, mas o que deveria ter sido.
Mas o pobre cão, na vida o mais fiel amigo,
O primeiro a dar boas vindas, na dianteira para defender,
Cujo coração honesto é do próprio dono,
Que trabalha, luta, vive, respira somente por ele
Sem honra se vai, despercebido seu valor,
Negada no Paraíso a alma que tinha na terra;
Enquanto o homem, fútil insecto! tem a esperança de ser perdoado,E reivindica para si só exclusividade no Paraíso!
Oh, homem! frágil, breve inquilino
Rebaixado pela escravidão, ou corrompido pelo poder,
Quem te conhece bem, deve rejeitar-te com desgosto,
Massa degradada de poeira viva!
Teu amor é luxúria, tua amizade inteira ilusão
Tua língua hipocrisia, teu coração decepção.
Por natureza mau, dignificado apenas pelo nome,
Cada irmão selvagem pode fazer-te corar de vergonha.
Vós! que, por ventura, contemplais esta urna simples
Ficais sabendo, não homenageia ninguém que desejais prantear,
Para marcar os despojos de um amigo estas pedras se levantam;
Nunca conheci nenhum, excepto um único — e aqui ele descansa.

Lord Byron (1788-1824)

O túmulo de Boatswain, onde está gravado este poema

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